Death Note da Netflix se junta à Dragon Ball Evolution na lista de adaptações americanas de animes que não deveriam existir.
Caso você seja um fã muito hardcore e que espera algo que relembra a obra original, esqueça. O filme apenas pega (de forma muito preguiçosa) o conceito mais básico de Death Note e o aplica em um contexto americano. Adolescente pega caderno que mata pessoas. Só. As semelhanças param aí.
E antes que questionem: e o filme deveria ser igual ao mangá? Não. Entretanto, reclamações são altamente válidas quando as alterações não fazem nexo com a proposta da Netflix. Ocidentalizar, era a palavra-chave. Na versão japonesa ,Light Yagami é um jovem entediado, gênio e “exemplo de cárater”, até se mostrar sendo um sociopata. Light Turner, versão Netflix, é um garoto que briga com valentões e que só faz o que faz por ser induzido por outros personagens da trama.
Somado não só este problema de construção de personagem, a própria atuação do Nat Wolff como Light fica muito a dever, em especial no momento em que ele encontra pela primeira vez com o shinigami Ryuk. Qualquer tensão que havia sido criada até o momento, foi jogada ao ar com a reação teatral e exagerada de susto. O Willem Dafoe entrega um bom Ryuk, ao menos, só não sendo excelente devido ao fraco roteiro.
Saindo do protagonista, pode-se analisar a obra original de Death Note como uma batalha de egos e intelectos, sempre trazendo pequenos plotwists durante a história. E além disso, temos a maior característica que a trama do mangá/anime apresenta: quem seria a justiça? Kira, o assassino de criminosos, ou L, o detetive prodígio? Essa é a base que o enredo se desenvolve, que faz alguns torcerem para o Kira, outros para o L, e até mesmo deixa alguns em dúvida por qual torcer.
Na versão Netflix, L é apenas um cara inteligente e viciado por doces, com zero de carisma. No fim das contas, temos um filme que apresenta um “protagonista” e um “antagonista” que não te conquistam e nem sequer chamam a atenção.
O filme tenta ser um meio termo entre história de crimes e romance, ao mesmo tempo que apresenta cenas de mortes pesadas. O filme nem sequer é consistente no que promete: a relação entre o Light e a Mia, elemento mais trabalhado na trama, simplesmente começa do nada e se desenrola de uma maneira esquisita e que não te convence que eles realmente gostam um do outro.
A trilha sonora, que se alterna entre pop clássico e rock melódico, quase vezes tira o clima de tensão de uma determinada cena (principalmente a última, por exemplo), e só faz parecer que o diretor mandou a lista de músicas errada para os responsáveis da edição de som do filme.
No final, percebe-se que a produção fracassa em pegar o que há de bom no material original e falha em introduzir novos conceitos. O filme erra no básico do que faz Death Note ser bom e único, optando pelo caminho mais preguiçoso possível.